13/11/2007

É só o que falta

Lembro que com mais ou menos 12 anos de idade foram colocadas grades na minha janela. Mesmo que eu conseguisse ver um pequeno pedacinho do céu, não era suficiente. Tinham tirado a minha visão total. Em pouco tempo, meu quarto passou a ser no andar de cima, sem grades. A vista era muito melhor, conseguia ver as pessoas passando lá embaixo sem saber que eu as observava. Carros na rua e um canto do pôr-do-sol avermelhado. Sagradas tardes de vagabundagem!

Semana passada, quando fui encardernar meu trabalho da pós, percebi que não tenho mais janelas. A gráfica fica na Carlos Gomes e possui portas de vidro. O dia era ensolarado, estava quente. Sentei e esperei. E me dei conta que não tenho visão nenhuma da janela do meu apartamento. Se abro, o que consigo enxergar é a chata da vizinha de baixo ou a janela da vizinha da frente. E no trabalho, as janelas estão a 2,10m de altura. Observar aquelas pessoas passando naquele meio-dia me deu uma luz, uma alegria diferente. Não sei se era por ver o sol ou por descobrir que o que me falta são só: janelas.

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Em tempo: uma das visões mais bonitas de Porto Alegre foi de um pôr-do-sol de verão, da janela de um prédio na Sarmento Leite. Não sei quando tempo eu fiquei ali parada, mas se tivesse talento para pinceladas, conseguiria reproduzir cada reflexo dos raios no Guaíba. E era no tempo em que eu não sabia o que estava acontecendo às minhas costas.